SÍNTESE: QUAL LEITURA (NÃO) SE FAZ ATUALMENTE?
Natália Mazzilli Dias
“Os
jovens de hoje não leem, não se informam, passam os dias imóveis diante das
telas”... Esse é o discurso que permeia o senso comum e até mesmo as salas de
professores, entre um café apressado e uma checagem nas mensagens do celular. É
possível, de fato, dizer que atualmente não se lê? Ou que o navegador da
internet está imóvel diante da tela, um receptor passivo e alienado?
É interessante o texto de Chartier
porque, a partir da maneira dialética com que escreve e analisa diferentes
contextos histórico e sociais, percebemos que a revolução dos livros não se deu
de forma estanque. Iniciou-se em determinado período, mas os formatos, os
papéis de editor, autor e leitor, as gramáticas, as formas de publicação e
distribuição seguem alterando-se até os dias de hoje, de maneira revolucionária
e ao mesmo tempo contínua.
Nessa análise, é possível inferir que
a navegação online, o consumo de informações digitalizadas também é uma forma
de leitura. A autora Lúcia Santaella (2004) nos explica isso de maneira muito
didática em seu livro Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor
imersivo.
Os principais objetivos da autora na
realização da pesquisa que originou este livro, bem como da publicação
presente, é compreender e categorizar as habilidades cognitivas (nisto
incluem-se as habilidades sensório-motoras) necessárias para o leitor da
hipermídia. Portanto, Santaella buscou caracterizar esse perfil de leitor da
era digital, os traços específicos que não são comuns aos leitores do livro
impresso e do papiro.
Conforme defende a autora, o leitor
imersivo, característico da navegação nesse espaço, relaciona-se com as
características da hipermídia: é um leitor que não se atém apenas a textos
escritos, mas também a imagens, sons e vídeos; desenvolve uma capacidade de
interação e de criação para agir sobre a rede; possui uma concentração mais
plural e menos linear.
Essas análises tão pertinentes nos
permitem observar, para além do óbvio, a riqueza de habilidades e aprendizagens
alavancadas pela navegação digital. Cabe ainda ressaltar a contrapartida a
“imobilidade” do leitor imersivo, tão combatida por Santaella (2004), a qual faz uma discussão muito pertinente acerca da dualidade que
permeia o senso comum, a partir da qual acredita-se que mente e corpo são
dissociados e, portanto, a leitura de hipermídia mobiliza apenas a mente. Na
realidade, aponta a autora, tanto mente quanto corpo são mobilizados (principalmente
o sistema háptico) e
trabalham ativamente nessas situações.
"[...] quando se navega no ciberespaço, por fora, o corpo
parece imóvel, mas, por dentro, uma orquestra inteira está tocando, cujos
instrumentos não são apenas mentais, mas, ao mesmo tempo, numa coordenação
inconsútil, perceptivos, sensórios e mentais" (p. 149).
A partir dessas importantes leituras que se faz sobre a leitura, cabe repensar sobre o que os jovens – e a sociedade, num geral - estão, na verdade, lendo. O papel dos professores nesse contexto de leitura digital é, portanto, compreender essas habilidades e mediar oportunidades de leitura imersiva.
Fontes:
CHARTIER, Roger. A aventura do livro. Do leitor ao
navegador. Conversações com Jean Lebrun. 1ª reimpressão. Tradução Reginaldo
Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo/Editora UNESP, 1998.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor
imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
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Ná, você conseguiu fazer uma síntese interessante para divulgar as principais ideias dos dois livros, de forma simples e direta, o que, pensando no nosso público de leitores, é muito importante.
ResponderExcluirQue bom, Telma! Muito obrigada pelo seu comentário!
ExcluirEstando na sala de aula e na dos professores, infelizmente, quer percebo que esse senso a respeito da (falta de) leitura é comum e cresce exponencialmente. Isso alarga o abismo entre professores e alunos em vez de construir pontes. Excelente reflexão, Natália.
ResponderExcluirVocê tem razão, João, isso apenas aumenta a distância que deveríamos estar preocupados em reduzir. Obrigada pelo comentário!!
ExcluirNatália, sua síntese foi muito bem construída, mostrando de forma clara o que lemos nos dois livros, trazendo como ponto de reflexão a concepção de leitura que permeia a afirmação de que os jovens (e os adultos?) não leem atualmente. Importante problematizarmos essa questão realmente.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Érika, muito obrigada!
ExcluirExcelente colocação de ideias diante das duas obras Natália. Realmente a telinha do celular acaba sendo o foco atual das buscas por notícias, por adquirir um livro e tê-lo ali na sua mão. Acho que o celular, por exemplo, por muito tempo foi visto como um "ambiente" para entretenimento e muitos professores quando se deparavam com seus alunos nos aparelhos, é claro, pensavam em redes sociais, em jogos... enfim, não dá mais para separá-lo na relação entre aluno e professor. Além do mais, realmente ele pode ser usado a favor da educação, todavia depende do professor definir estratégias a seu favor para inseri-lo no contexto educacional. Essa foi a reflexão que tive na leitura do seu texto.
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