SÍNTESE: NAVEGAR É PRECISO! MAS... CADÊ O BARCO?
Érika Menezes de Jesus
A leitura se estrutura como uma das principais habilidades para que o sujeito deste tempo possa se constituir como cidadão e viver na sociedade em que práticas de escrita são, a todo tempo, requeridas. Como prática social, a leitura também está sujeita a modificações que atendem a determinados períodos e características históricas, configurando-se como instrumento de acesso e poder.
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Se as práticas de leitura ganham novos contornos com a leitura digital, qual é o papel da escola nesse cenário?
Lugar em que historicamente se legou a função do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita, em uma sociedade em que as transformações eletrônicas/digitais ganham cada vez mais o protagonismo nas relações com o conhecimento e entre os sujeitos, a escola parece ser a instituição responsável para que novas formas de ensinar e aprender se juntem, ou modifiquem, as já praticadas a fim de que esses “novos leitores” possam ser e agir responsável e criticamente no mundo.
Compreender a escola como lugar em que se possa trabalhar leituras e textos para além da simples decodificação e que também ultrapasse a “opinião do leitor”. É preciso que se aprenda a fazer escolhas. Escolhas que envolvem a qualidade do que se é lido. Isso envolve checagem da fonte, leitura crítica sobre o que é lido, estabelecimento de relações entre textos; textos e imagens; textos, imagens e vídeos. Leituras múltiplas sobre diferentes assuntos. Menos opinião por opinião, mais desconfiança, mais pesquisa e mais argumento.
É necessário buscar caminhos para o fortalecimento e constituição desse leitor que recebe inúmeros textos, das mais diversas fontes, um leitor que saiba não se enredar pelos apelos da Internet e que navegue por ela assumindo uma postura autoral e consciente de suas navegações. O primeiro deles talvez seja conceber a leitura como uma prática ampla, não restrita aos livros, e conhecer os aportes teóricos a respeito do tema, para não assumi-lo como uma prática espontaneísta e natural.
Até o momento, ao tratarmos desse assunto, parece que estamos inseridos em uma realidade homogênea, em que todos acessam e dispõem dos meios eletrônicos necessários para uma ação ampla e suficiente no universo digital. Infelizmente, estamos longe disso. Com a deflagração da pandemia em que estamos imersos e a necessidade da intensificação do uso de meios digitais de trabalho, ensino, aprendizagem e comunicação, ascendeu ao palco do debate, mais uma vez, a questão sobre as desigualdades: social, educacional e digital brasileiras. Diferentes pesquisas reafirmaram aquilo com que já convivíamos: a realidade do uso e acesso aos meios digitais não ocorre de forma equânime no território mundial, em especial, no brasileiro. E as realidades cotidianas das escolas e dos professores no Brasil não são exceção a essa constatação.
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Esse paralelismo exige de nós, profissionais que trabalham na escola, mudanças em nosso fazer pedagógico. Sempre atentos, inclusive, para a realidade social que demonstra que ainda estamos longe da democracia digital tão necessária para que práticas digitais de leitura e escrita se constituam tanto no espaço escolar quanto fora dele, no sentido de formar leitores suficientemente capazes de agir socialmente em favor de uma vida mais igualitária e justa.
Referências
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
NÓVOA, A. Pensar la escuela más allá de la escuela. Con-Ciencia Social, n. 17, p. 27-37, 2013.
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
Ótimas reflexões Érika! De fato, estamos longe de garantir inclusão digital para todos. A escola, contudo, precisa estar à frente da sociedade e se preparar e preparar os alunos para a realidade digital, que, afinal, já é.
ResponderExcluirObrigada, Telma! Sim, precisamos lidar com a realidade da cultura escrita em suas diferentes manifestações.
ExcluirMuito criativo o seu título, Érika. Seu texto é crítico e aborda questões imprescindíveis. Parabéns!
ResponderExcluirQue bom que gostou! Confesso que não sou muito boa com títulos, mas acho que acertei dessa vez. Agradeço seu comentário!
ExcluirPois é, cadê o barco? A pandemia evidenciou que, apesar dos discursos correntes, a escola não se entende com a cultura digital: professores, de maneira geral, improvisaram, aprenderam, se viraram. Esses verbos dão conta da relação cultura digital e escola. Obrigada pela reflexão!
ResponderExcluirOi! Agradeço seu comentário aqui. Tempos difíceis, não é mesmo?! Mas vamos vencendo. Acredito que nunca sozinhos!
ExcluirÓtima reflexão, Érika! Como é importante o papel da escola para a formação de leitores críticos
ResponderExcluirna nossa sociedade!
Obrigada pelo seu comentário, Ana Luíza! Sim, a escola é fundamental!
ExcluirMuito bom, Érika! Você traz uma das questão impostantes para esse debate, a "democracia digital". Como ampliar os acessos digitais às populações das diferentes classes sociais? Obrigado pelo diálogo!
ResponderExcluirAgradeço professor a oportunidade de poder aprender sobre esses assuntos e também de poder publicar aqui neste espaço um aspecto do tema!
ExcluirParabéns, Érika. Bela reflexão e ótimo título.
ResponderExcluirMuito obrigada pela leitura, Flávia!
ExcluirÉrika, que excelente que seu texto tenha abordado a questão da desigualdade social, infelizmente, tão patente na nossa educação. Infelizmente, percebemos que muitos dos assuntos abordados sobre leitura (especialmente a digital) acabam por serem pautados por essa triste realidade. Ótima reflexão!
ResponderExcluirPois é... é um dos aspectos que envolvem o tema, não é mesmo?
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