UNIDADE DE LEITURA: K. - RELATO DE UMA BUSCA

Thais Batista Siqueira      


Unidade de Leitura
K. – Relato de uma busca

Tema:
Ditadura Civil-Militar no Brasil

Para quê?
Aprimorar a competência leitora e escritora e a capacidade de reflexão e argumentação, bem como desenvolver o conteúdo da disciplina de História e tornar conhecidos os crimes cometidos pelos aparelhos de repressão do regime.
A fruição estética do texto literário também é desejada.

Para quem?
A unidade será desenvolvida nas turmas de 9os anos sob minha regência em escola da rede municipal de ensino de São Paulo. Pela minha experiência com as turmas, são adolescentes que têm pouco hábito de leitura e escrita para além das atividades escolares, mas são muito bons na competência argumentativa oral.

Quanto tempo?
Como o desenvolvimento da unidade pode variar de acordo com as especificidades de cada turma, penso que serão necessárias, no mínimo, 4 aulas de 45 minutos. (Nesta contabilização considero apenas o trabalho com estas atividades. O conteúdo de História já estará sendo trabalhado pelo professor.)

Escolha do texto:
Leremos o primeiro capítulo do livro K. – Relato de uma busca, do escritor Bernardo Kucinsky (São Paulo: Cosac Naify, 2014, 192 p.), no qual ele ficcionaliza o desaparecimento de sua irmã, a professora Ana Rosa, durante a vigência do regime civil-militar no Brasil (1964-1985). Intitulado “Sorvedouro de pessoas”, o capítulo traz palavras de impacto e apresenta a situação de forma direta e objetiva.
A narrativa é conduzida pelo pai de Ana Rosa, o senhor K., que segundo Maria Victoria de Mesquita Benevides, em seu texto de orelha ao livro, está “dilacerado entre seu amor paterno e os sentimentos de culpa”.
Para somar ao texto, exibirei algumas imagens fotográficas de uma obra do artista português Artur Barrio, que em 1970 produziu uma ação artística chamada Situação T/T1, na qual produziu 14 trouxas ensanguentadas e as colocou às margens do rio Arrudas, no Parque Municipal, em Belo Horizonte. Anonimamente, um fotógrafo registrou a ação e a reação das pessoas que transitavam pelo local. Obviamente, a obra era uma crítica bastante contundente ao desaparecimento de pessoas durante o regime civil-militar.

Etapas da unidade (ou o como do meu ensino de leitura?):


Situação TE (Trouxa Ensanguentada), Belo Horizonte, 1970.

Parte da ação Situação T/T1, Belo Horizonte, 1970.


1.    Antes da leitura, exibirei com o auxílio de projetor multimídia, as imagens da ação de Barrio sem as legendas com o título. A partir da observação, instigarei os alunos a fazerem inferências.
Perguntas possíveis:
·         O que vocês conseguem identificar nas imagens?
·         O que acham que elas representam?
·         Onde e quando vocês acham que a situação retratada aconteceu?
·         Quem são as pessoas envolvidas? Etc.

2.    Já com o texto em mãos, solicitar aos educandos inferências a partir do título, principalmente com relação ao significado da palavra “sorvedouro”, que não costuma ser de uso coloquial.
Perguntas possíveis:
·         A partir do título, qual vocês acham que pode ser o assunto do texto?
·         O que vocês acham que a palavra “sorvedouro” significa?
·         Vocês acreditam que o texto e as imagens estão relacionados? Se sim, de que forma? Etc.

3.    Com base no meu conhecimento das turmas, avalio que a melhor forma de promover a leitura do capítulo (o texto tem 6 páginas) é compartilhá-la ou mediá-la exclusivamente.

4.    Considerando a concepção de leitura presente no livro Unidades de Leitura (SILVA, Ezequiel Theodoro. Campinas, SP: Autores Associados, 2003) – constatação, cotejo ou reflexão e transformação, farei aos educandos, após a leitura, as perguntas relacionadas ao primeiro momento: o que sentiram ao ler o texto e o que compreenderam dele.

5.    No momento de cotejo ou reflexão, há a partilha dos sentidos do texto, relacionando-o às imagens e ao momento histórico ao qual se refere. Acho importante explicar aos educandos que o texto lido é uma ficção, apesar de fazer referência a um fato da vida pessoal do autor e remeter à realidade; afinal, as pessoas eram “desaparecidas” durante a Ditadura.
Também entendo ser importante esclarecer, caso a discussão não mencione, que Barrio não está trabalhando com corpos humanos, mas sim com carne animal e outros refugos.
É fundamental que o professor coordene esse momento de reflexão, pontuando as observações dos educandos, colocando as suas observações e, assim, expandindo os sentidos do texto e aprofundando a leitura.
Perguntas possíveis:
·         Qual a tragédia do narrador?
·         Que sentimento toma conta dele durante o texto?
·         Ele é brasileiro? A que cultura pertence?
·         O que a filha fazia?
·         Ele associa o desaparecimento da filha a que acontecimento envolvendo os judeus?
·         Qual o caminho que percorre para ter notícias da filha? Como as pessoas reagem às suas perguntas? Etc.

6.    Na etapa transformação, os educandos serão instigados a “produzir mais sentidos ainda aos textos lidos” (SILVA, p. 58) a partir da elaboração de textos de sua autoria nos gêneros sugeridos abaixo. A produção pode ser desenvolvida em grupos de no máximo 5 educandos e os gêneros a serem trabalhados podem variar de acordo com os conhecimentos que cada turma possui. Esse trabalho com os gêneros pode ser realizado em parceria com os professores de Língua Portuguesa, articulando conhecimentos inter e transdisciplinares.
Vamos às sugestões:
·         Continuar a narrativa contando o que ocorreu após aquele ponto da história;
·         Refletir sobre a crítica político-social indiciada pela história, produzindo um artigo de opinião. Os educandos podem fazer uso dos conhecimentos produzidos nas aulas de História sobre a Ditadura civil-militar no Brasil;
·         Elaborar uma notícia sobre o desaparecimento de cidadãos durante o regime ditatorial no Brasil.

7.    Após a elaboração dos textos, as produções podem ser compartilhadas com os colegas de sala e com a comunidade escolar. A correção e possível reescrita dos textos pode ser feita em parceria com os professores de Língua Portuguesa.

Sugestão de sequenciamento:
Pode ser dada sequência à unidade com a leitura de artigos de jornal da época ou outros gêneros literários, como poesia, contos, crônicas, etc., e até mesmo com a leitura de obras de artistas visuais que tiveram a Ditadura como tema (Ana Maria Maiolino, Cildo Meireles, entre outros). Além disso, podemos expandir o tema ao relacioná-lo com o genocídio da população negra nas periferias do país por meio do uso e abuso da violência policial.

Avaliação:
Penso que a avaliação não passa somente pelo produto final (a produção textual), mas sim pelo desenvolvimento de toda unidade de leitura. As impressões de professores e educandos podem ser compartilhadas, somadas e compor um documento norteador para as próximas atividades. O registro do professor é imprescindível neste momento.

Referências para pesquisa:

            Artur Barrio

            K. – Relato de uma busca



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