ARTIGO: PROFESSORES SÃO TEXTOS TAMBÉM

                                                  

Numa dessas andanças pelo Brasil, me perguntaram o que eu acho dos professores que não gostam de ler. Respondi que acho uma aberração mesmo porque a profissão do professor, por trabalhar com o conhecimento e porque o conhecimento caminha pela escrita, exige que a leitura esteja encarnada nos atos de todos os professores.

Ainda que nas sociedades primitivas, antes da invenção da escrita, a educação das novas gerações ocorresse através da palavra oral de pais e/ou preceptores, hoje em dia, em meio às sociedades do conhecimento (da informação, da aprendizagem) a base do ensino é a linguagem escrita, ao lado da oral, da imagética, sonora, etc. Portanto, fica difícil engolir a ideia de um professor não leitor - é como se admitisse a possibilidade de um piloto que não sabe voar ou  a de um cirurgião que não sabe operar.

Em algumas de minhas reflexões publicadas em livro, fiz uma analogia entre o professor e um texto. Quer dizer: o professor pode ser tomado ou definido como um texto complexo - um sujeito que, para chegar  onde agora está (ensinando numa escola), teve de ler e incorporar muitos textos ao longo da sua caminhada de vida. Há quem diga que uma pessoa é o que é pelos textos que leu. Afinal, quem é você? Eu sou aquilo que li e vou ser mais por tudo aquilo que eu vier a ler em futuros momentos da minha existência. De fato, nossos corpos e nossas mentes são em muito moldados pelas nossas interações com uma multiplicidade de textos.

Sabemos que uma das funções dos professores é gerar entusiasmo, aproximação, busca e amor nos seus alunos  pelos objetos/referenciais que ensinam. Em outras palavras, por exemplo, ensinar Matemática é fazer com que os estudantes passem a gostar da Matemática; ler literatura em uma sala de aula e proporcionar situações em que os jovens passem a gostar da Literatura; e assim por diante. Nesses termos, promover a leitura é fazer com que os alunos gostem de ler e assumam os objetos de leitura, via textos, como necessidades imprescindíveis para a sua vida.

E um jeito de fazer isso é tão simplesmente o professor dedicar uma parte das aulas para contar aos alunos sobre aquilo que leu e gostou (ou detestou), sobre as suas dificuldades e facilidades para ler, sobre um texto que leu e que nunca mais esqueceu, etc. E fazer com que os estudantes, em rodas informais de conversas, também contem as suas experiências de leitura. Tais relatos são pedagógicos, não exigindo nenhuma ginástica didática para motivar ou envolver os participantes de uma aula.




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