ARTIGO: LER "JUNTO" COM OS ESTUDANTES

Quando fiz a escola primária e o ginásio nas décadas de 1950/1960, e mesmo depois na a universidade no final da década de 1960, os professores geralmente atribuíam leitura PARA FAZER EM CASA. Com raras exceções, dentre elas as lições de leitura intensiva (contidas nos livros didáticos de português), as atividades de leitura eram efetivadas em casa na forma de pesquisas em enciclopédias, livros técnicos, etc. ou então cumprimento de capítulos de romances indicados. 

Excetuando-se a leitura para "cópia" de textos escritos na lousa, este era o caráter principal da leitura naquele tempo: uma prática para se fazer casa, distante dos bancos escolares, como atividade SUPLEMENTAR e cobrada em sala de aula, nas aulas posteriores. A cobrança da leitura era geralmente feita através de textos escritos na forma de esboços, resumos, sínteses, respostas a questionários, fichas, etc. entregues ao professor; vez ou outra ocorria uma discussão em grupo ou da turma toda para fazermos a partilha das ideias construídas no isolamento das nossas casas. 

Varro a minha memória de vida de estudante e não consigo relembrar de nenhum professor que LESSE COM A CLASSE, que dividisse o seu entusiasmo de leitura conosco. Que falasse de suas paixões por determinados textos e ódio por outros. Que revelasse as suas dificuldades de leitura como professor. Que mostrasse as significações e as belezas dos textos. Enfim, que revelasse o MODELO DE LEITOR que ele próprio era e, através desse comportamento, que nos conduzisse ao maravilhoso universo dos textos e da escrita em geral.

Acredito que uma das principais funções dos professores seja a de estimular a paixão dos estudantes pela matéria que eles (professores) ensinam. Assim, além de aspectos relacionados à pedagogia, à epistemologia, etc., existe uma esfera afetiva a ser pensada e estimulada pelos mestres de modo a fazer com que os seus alunos passem a gostar da matéria, a vibrar com os conteúdos específicos contidos na mesma. E, para mim, não existe melhor caminho para isto do que a DEMONSTRAÇÃO, o TESTEMUNHO, o EXEMPLO VIVO de um professor.

No caso do amor pela leitura - tarefa importantíssima nos dias de hoje -, estou mais do que convencido de que impõe-se o LER JUNTO, COLETIVAMENTE, PARTILHANDO sentidos, delícias, dificuldades, extensões, paralelismos, etc. Por que não dedicar algumas aulas do programa para CONVERSAR SOBRE TEXTOS? Por que não atribuir algumas aulas do programa para que os estudantes LEIAM NA PRÓPRIA SALA DE AULA, contando aos colegas sobre aquilo que leram?

Talvez seja este um caminho mais seguro e produtivo para tirar aquele ranço didatizado, escolástico, impositivo da leitura escolarizada, transformando-a numa atividade mais natural ou menos artificial, praticada amplamente em sociedade, mais vivenciada processualmente na escola do que "cobrada" impositivamente para tão apenas fazer a contabilidade estafante de páginas lidas ou de pesquisas copiadas daqui e dali, à moda bancária e sem significação alguma para as crianças e os jovens.  

Assim procedendo, os professores terão como meta primeira a FORMAÇÃO DE UMA REDE DINÂMICA DE LEITURA com os seus grupos de alunos, priorizando a partilha e a interlocução a partir dos textos selecionados para o semestre. Isto não significará terminar com as exigências da leitura para casa, mas um equilíbrio didático via demonstração e vivências concretas de práticas de leitura. 

Comentários

  1. Que felicidade saber que enquanto docente estou no caminho certo! Eu leio apaixonadamente para meus alunos. Principalmente Rubem Alves ❤️

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