ENTREVISTA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES

 Ezequiel Theodoro da Silva

DA EDITORA AUTORES ASSOCIADOS - Os internautas pediram: querem mais informações sobre formação de professores/mediadores de leitura e nós atendemos! 

1) Qual teoria educacional está mais em voga nos cursos de formação de professores atualmente?
R - É difícil generalizar porque existem muitos “modismos” na área de formação de professores no Brasil. Além disso, o carrossel teórico muitas vezes gira conforme a música produzida no estrangeiro, principalmente na França e nos Estados Unidos. Entretanto, creio que o educador português Antonio Nóvoa foi quem mais intensamente iluminou e orientou o processo de formação de professores, fornecendo embasamento histórico e metodológico para os cursos. Sem nenhum tipo de nacionalismo barato, acho que é hora de nos debruçarmos com mais vigor sobre as teorias produzidas em solo brasileiro, da pedagogia libertadora (Paulo Freire) à crítico social dos conteúdos (Saviani), de modo que o processo de formação de professores seguisse uma orientação mais próxima, consistente e talvez mais consequente em termos de resultados qualitativos para a educação escolarizada brasileira.


2) No que o senhor acredita ser um bom método de ensino para crianças, jovens e adultos? Há diferença nos métodos de ensino?
R – Métodos de ensino são “meios” para as finalidades perseguidas pelo professor. Nestes termos, nas mãos de um bom professor, quaisquer métodos podem dar conta do recado, ou seja, gerar aprendizagem e conhecimento. Acredito que os melhores métodos são aqueles inventados e geridos pelos professores na realidade concreta das salas de aula, constituindo, por isso mesmo, uma identidade docente específica ou, se quiser, um estilo didático personificado e expresso por um professor junto aos seus grupos de estudantes. Infelizmente, no Brasil sempre estivemos à cata de métodos milagrosos, panaceias que dessem conta dos males do ensino – repetimos essa ladainha até hoje, como um rescaldo do tecnicismo; e nos esquecemos de fortalecer o “sujeito” do ensino de modo que ele pudesse selecionar a partir de métodos consagrados e inventasse os “jeitos pessoais” de ensinar com a devida qualidade política, epistemológica e técnica.

3) O que ensinam os cursos de formação de professores atualmente?
R – Pelo que vemos por aí em termos de aprendizagem dos estudantes, eu diria que muito pouco ou quase nada. Pegue, por exemplo, os cursos vagos, os cursos das faculdades noturnas de natureza comercial exclusivamente, os cursos feitos à distância pela Internet etc. e verá que tenho razão nisso que estou afirmando. Quer dizer: parece que virou moda acelerar e superficializar ao máximo o processo de formação de professores neste país – daí, inclusive, a sua perda de status e o desrespeito pelos valores da educação. Vai ser difícil consertar os estragos feitos nessa área nos últimos 40 anos…

4) O que o senhor indica para aquele professor que deseja se reciclar em relação aos seus estudos de pedagogia?
R – Leitura. Muita leitura. Leituras de obras que venham a aumentar o seu repertório cultural e profissional – obras que apontem horizontes de transformação enquanto pessoa, cidadão e professor. Nestes termos, estou aqui pensando em textos que adensem a sua visão de mundo e de educação, e lhe permitam construir bases ou critérios para entender a dimensão do trabalho docente, criticar a poluição que foi levada para dentro da escola pelo mercado, por governos autoritários, pelas editoras de materiais didáticos, pelos modismos educacionais, etc e, o mais importante, decidir com sabedoria os rumos que vai perseguir em sala de aula, com os grupos de estudantes que ele tem por responsabilidade educar.

Comentários

Postagens mais visitadas