SÍNTESE: SURGE UM NOVO LEITOR.

 Flávia Poliana Serafim Alves

 

Atualmente, a internet faz parte do nosso cotidiano e o espaço escolar não é diferente. Com o surgimento da internet, temos acesso a um “conhecimento universal sem totalidade”; as mídias de comunicação são muitas e se entrecruzam num mesmo aparelho – no celular, por exemplo, existem várias mídias combinadas. O leitor de mídias precisa aprender a gramáticas das mesmas no sentido de dominá-las. Além disso, precisa ter opinião crítica sobre o que ouve/lê, ainda mais neste momento em que estamos rodeados de “fake news”. O professor necessita acompanhar e compreender essas mídias, assim podendo oferecer aulas mais atrativas aos seus alunos. Com o auxílio da tecnologia, os professores podem formar alunos autônomos e com capacidade crítica para discernir sobre as informações que chegam até eles.




Fonte: https://unsplash.com/photos/BzSiMgHyQhA

 

Chartier, quando analisa o discurso de que os mais jovens afastam-se da leitura, afirma que é possível pensar que os mais jovens afastam-se sim dela, mas vale lembrar que os indivíduos que são considerados não leitores também leem, mas leem coisa diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura legítima. É preciso rever aquilo que a norma escolar rejeita como um suporte de texto para dar acesso à leitura na sua plenitude.

Refletindo sobre a história do livro, do rolo da Antiguidade às telas dos “smartphones, computadores, e-reader e outros”, podemos perceber que a revolução do livro  é uma revolução não apenas no objeto de leitura, como também na forma de ler. Para Chartier, o texto na tela traz uma estruturação diferente da do livro em rolo da Antiguidade, ou do livro manuscrito ou impresso, do leitor medieval, moderno e contemporâneo.  No livro impresso/manuscrito, o texto é estruturado em cadernos, folhas e páginas.  Na tela, o fluxo é o sequencial, assim como no rolo, no entanto o texto possui referências, paginação, índice como nos impressos/manuscritos, além de possibilitar que o leitor embaralhe, entrecruze, e reúna mais elementos quando da utilização de uma única mídia.

No livro Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo, Lucia Santaella busca estudar/analisar as novas formas de percepção e cognição do leitor imerso no ciberespaço. Explicando os tipos de leitores presentes na história da humanidade, mostra o “novo leitor do ciberespaço”, aquele que surge com o avanço da tecnologia, mostrando as disposições, habilidades e competências que surgem com novas práticas de leitura. Tomando por base os tipos de habilidades sensoriais, perceptivas e cognitivas que envolvem o processo/ato de ler, Santaella apresenta o leitor imersivo, cujas características são prontidão sensorial, não-linearidade e interatividade. Esse leitor lê, escuta, vê imagens e interage ao mesmo tempo, ou seja, todos os sentidos participam e interagem no momento da leitura Sua leitura não é rígida e linear na medida em que ele mesmo elabora a sua sequência de leitura, mudando de texto para outro, agrupando imagens, vídeos e sons. O leitor imersivo interage com outros leitores imersivos, ele cria e recebe conteúdos, transmite e recebe mensagens.

Por fim, para Chartier, “o texto vive uma pluralidade de existências”, ou seja, podemos encontrar o mesmo texto em vários suportes, mas a interpretação/ compreensão será diferente para cada pessoa, dependendo de seus próprios protocolos de leitura, de seus conhecimentos e vivências. Sendo assim, não há uma única maneira de ler, mas diferentes formas de apropriação de ideias contidas em diferentes tipos de texto.

Desse modo, cabe à escola realizar um trabalho que ensine a ler todos os textos que circulam em sociedade, inclusive literatura, e para isso é necessário utilizar de textos e suportes que fazem parte da vida desse aluno, assim introduzindo-o no mundo da escrita de forma atrativa, para que esse possa se apropriar do gosto pela leitura. Ao impor um único tipo de leitura ou rejeitar o que o aluno lê, o professor se afasta do aluno, podendo criar a visão de que ler é um comportamento chato, cansativo e nada prazeroso.

 

Referências

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.

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Comentários

  1. Gosto muito do ponto com o qual você trabalhou, Flávia. De fato, se pensarmos em uma estratégia para alcançar nossos objetivos de ensino, negar o que o aluno já lê como leitura não é interessante. Melhor mesmo é seguir o conselho de Chartier e seguir a partir dessas leituras. Um abraço.

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