SÍNTESE: LEITURA E ENSINO NA ERA DIGITAL

Melina Borges Omitto


    A leitura não é uma atividade natural para o cérebro humano, tendo em vista que seu desenvolvimento se deu ao longo da evolução da nossa espécie. As estruturas do suporte material do escrito e as maneiras de ler também foram se modificando ao longo do tempo: na Idade Antiga, por exemplo, as leituras eram feitas em rolos, que precisavam ser segurados e desenrolados com as duas mãos. Já nas Idade Média e Moderna, os livros manuscritos e impressos, organizados e estruturados com páginas, folhas, cadernos que se encerram no interior de sua encadernação foram os protagonistas, entretanto, foi na Idade Contemporânea que a escrita eletrônica/digital ganhou espaço, com suas fronteiras invisíveis que permitem ao leitor embaralhar e entrecruzar textos inscritos na mesma memória eletrônica.
    Na era digital (também conhecida como era da informação) o ato de ler passou a se dar por intermédio de gadgets: smartphones, tablets possibilitam que o leitor movimente os dedos pela tela para avançar, recuar, grifar e inserir notas no próprio texto, enquanto os movimentos físicos do usuário no computador, tais como o toque no teclado, o clique no mouse, a observação da tela, estimulam seus sentidos e resultam na prontidão perceptiva e nas inferências mentais.
    Além disso, os equipamentos eletrônicos oportunizam a interação com outros sujeitos nos ambientes virtuais através de links que direcionam os usuários para outros locais dentro do ciberespaço e permitem ainda reagir, avaliar e emitir juízos de valor nos textos lidos, contudo, vale destacar que tais opiniões e juízos de valor, não são neutros, uma vez que vêm carregados pelos sentidos e concepções próprias do leitor ou comunidade pertencente.


    Desse modo, cada um dos indivíduos que navegam pelo ciberespaço, com suas experiências anteriores e concepções variadas, coexistem neste ambiente, entretanto, diferentes possuem diferentes formas de navegação: há internautas que vão clicando meio sem rumo, explorando aleatoriamente as possibilidades, existem os que aprendem com a experiência mediante avanços, erros e correções e, ainda, aqueles que possuem uma navegação ordenada com percurso previsível, que sabem antecipar as consequências de suas ações. 
    Assim, a leitura em contextos digitais, uma modalidade de leitura, viva e em constante movimento, requer do infonauta aprendizagens no sentido de ler modo cada vez mais ágil, estabelecer conexões e construir significados. Cabe, portanto, ao professor, conhecer e refletir sobre este paradigma, identificando os perfis de seus estudantes e escolhendo com cautela quais mídias utilizar a fim de aprofundar/qualificar a aprendizagem dos mesmos. Também, entender que a sociedade capitalista pede, com tamanha rapidez, novas mídias, com o intuito de estimular o consumo e aumentar a eficácia da comunicação. 

Referências

CHARTIER, Roger. A aventura do livro - do leitor ao navegador. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.

SANTAELLA. Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.

Comentários

  1. Melina, super didático seu texto! Gostei muito quando você fala dos tipos de leitores imersivos, sem citar a terminologia, porque o texto fica mais leve para o leitor, que depois pode consultar a referência bibliográfica caso se interesse pelo assunto. Parabéns!

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