SÍNTESE: INTERATIVIDADE NO CIBERESPAÇO - NOVAS ROTAS DO ATO DE LER

 Nelivaldo Cardoso Santana

“O leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui o seu autor, seu editor ou seus comentadores.” – Chartier, (1998, p. 77)

Os espaços virtuais possibilitaram novos suportes à leitura e novos tipos de leitores, os quais, por sua vez, passaram estabelecer novos padrões de apropriação, invenção e produção de sentido. O contexto histórico e a natureza do material escrito determinam, em certa medida, os modos como o leitor se apropria do ato de ler, daí a relevância, a partir dos diferentes meios de comunicação – as mídias, por exemplo –, de os professores se ocuparem do ensino não só dos aspectos técnicos da leitura, mas, também, da interatividade.

O leitor se projeta e se apropria do texto de uma maneira muito específica. A partir das mídias os leitores deixaram de trabalhar nos gabinetes ou nas bibliotecas com leituras silenciosas e imóveis diante do material escrito para se tornarem leitores imersivos (SANTAELLA, 2004) que passam a atuar mediados pelas habilidades desenvolvidas diante dos estímulos semióticos. Para dar conta da leitura nos ambientes virtuais, os leitores lidam com os equipamentos de suporte do texto – os computadores – e com o conteúdo informacional em si – o discurso.

Fonte: http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/05/principios-educacao-online/

A escola e o professor, desse modo, passam a conviver no dia-a-dia da instituição de ensino com leitores que visam desenvolver competências cognitivas e, sobremaneira, os diferentes limites do corpo para lidarem com a cibercultura fora da escola. Para esses leitores, não basta saber ler o código escrito, é necessário conhecer os recursos tecnológicos e os caminhos a serem percorridos para ter acesso aos conteúdos. Considerando as demandas desses leitores, as atuais vivências escolares de prática de leitura nos estabelecimentos de ensino ensejam que novos atos de aprendizagem sejam  desenvolvidos apontando para as competências corpórea e cognitiva capazes de assegurar a interatividade para cada gênero hipertextual.

O ensino da interatividade compreende, também, lidar com as múltiplas linguagens, que, em certa medida, têm efeitos sobre as atitudes interativas do leitor no ciberespaço. Se a interatividade, realmente, é a arte de conversar com o outro, no ciberespaço os leitores conversam com o autor do texto, com as vozes que dialogam dentro do texto e com as vozes que orbitam o texto através dos “nós” e das outras formas de linguagens (vídeo, charges, infográficos etc.). Nesta perspectiva, a interatividade estabelece a (re)criação de rotas didáticas, pedagógicas e curriculares para o ensino de competências comunicativas que apontem para a qualificação do estudante para que este se aproprie da multiplicidade de vozes presentes nos discursos.

Fonte: https://ieducacao.ceie-br.org/autoriacoletiva/

Esse processo se dá a partir do momento que se compreende que a dinâmica de leitura, no contexto do ciberespaço, não é uma atividade apenas com o texto em si, mas, também com a máquina. Isso não significa que mudando o leitor de lugar, da frente do livro para a frente do computador, se terá um outro tipo de leitor. O leitor dos ambientes virtuais cria novos modelos de conexão entre o dito e o suporte, para que possa atuar transindividualmente sobre as múltiplas linguagens, acessando informações distantes, fazendo comentários e postando vídeos sobre outros vídeos. No ciberespaço, o leitor imersivo lê, escuta, olha, escreve e percorre de um ponto ao outro, portanto, a leitura nesses ambientes significa praticar as interatividades físicas e mentais.

Por último, as reflexões a respeito de a interatividade no ciberespaço são extremamente relevantes para as escola e para as comunidades dos cibernautas. No caso brasileiro, apenas uma mudança de concepção a respeito do texto, do leitor e dos suportes de leitura indicarão as novas rotas na prática docentes nos ambientes escolares, proporcionando discussões e ações mais qualificadas acerca da interatividade no ciberespaço.

Referências

CHARTIER, Roger. A aventura do livro - do leitor ao navegador. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.

SANTAELLA. Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.


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Comentários

  1. Muito pertinente a afirmação de que não se trata apenas de mudar o "portador" do texto, do livro físico para o computador, porque, de fato, é preciso trabalhar com novos modelos de leitura. Adorei as imagens que escolheu para compor seu texto!

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  2. Nelivaldo, que ótima reflexão! Como você muito bem pontuou, não é só uma questão de substituir livros, caneta e papel por computadores, tablets e smartphones. O leitor tem que estar ciente também das especificidades do suporte que está sendo utilizado e, por fim, ter autonomia para utilizá-los (lendo ou escrevendo). Uma discussão totalmente pertinente às escolas.

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  3. Nelivaldo, é muito interessante ver como os modos de leitura evoluíram... de leitura contemplativa para leitura imersiva... uff, quanta diferença, quanta mudança! É muito bacana, também, saber que cada texto, cada obra tem múltiplas interpretações, variando de leitor para leitor, já que cada pessoa tem um tipo de pensamento, de valor, de cultura, de sentimentos e emoções. Parabéns pela reflexão! Muito pertinente à atual situação que estamos vivendo.

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