SÍNTESE: FORMA SUJEITOS LETRADOS PARA DIFERENTES TIPOS DE TEXTO

Gabriela Fernanda de Araujo Camargo Plens

Os textos são artes construídas com as palavras, colocadas num suporte impresso ou digital, traz ao ser humano a concretude interna daquilo que ele é ou deseja vir a ser. As histórias, os mundos habitados pelos personagens, os medos, as certezas, as alegrias e as infelicidades de uma trama se conectam ao interior do leitor e o trazem à realidade transformado por aquilo que leu. Santaella (2004) diz que o leitor constrói a sua própria biblioteca vivida e que os textos carregam marcas daqueles outros que os antecederam. Um processo bastante subjetivo, pois diz respeito aos interesses e necessidades de cada sujeito e a maneira como este se relaciona com os textos e seus enredos.

                Segundo a pesquisadora, a leitura e a escrita foram se transformando com o tempo, não sendo apenas um processo de codificação/decodificação de símbolos, mas um processo de análise e de estabelecimento de relações entre palavras, imagens, desenhos, tipos gráficos, texto e diagramação.

            Ao encontro disso está Chartier (1998), pesquisador francês, traz à tona o percurso da humanidade em relação a leitura Roger traça uma linha histórica e cultural em que o homem, na antiguidade, participava da audição de histórias em encontros sociais e, que segundo as transformações de seu tempo, passou para a leitura do impresso e do privativo. Esse mesmo homem que internalizou as mudanças ao longo do tempo, passou a ser o grande agente da produção, que vai desde a produção, passando pela revisão e, até mesmo, pela publicação.

                Chartier mostra que o escritor se tornou distante de seus textos, antes escritos/transcritos de punho para o impresso e o digital. As mudanças na produção dos livros, pela rapidez e quantidade, possibilitaram que muitos tivessem acesso aos textos, inclusive os cidadãos que não pertenciam à burguesia.

Santaella traz em sua pesquisa uma abordagem sobre os novos leitores do universo midiático, assim como seus comportamentos diante do texto que lhe é apresentado no ciberespaço. Revela que a necessidade de sobrevivência no mundo grafocêntrico, faz com que leitores, ainda que inexperientes, usem da intuição e da abdução para se comunicar ou satisfazer as suas necessidades nos contextos em que a leitura se faz necessária.

                A autora nos faz perceber que há muitas conexões estabelecidas pelo indivíduo na cultura midiática. Corpo físico, em seus aspectos multissensoriais e intelecto se fundem na dimensão do compreender e agir. Alguns mais, outros menos, porém todos imersos numa cultura em que se faz necessário agir diante daquilo que está posto.

                Wolf (2019), neurocientista que investiga o desenvolvimento cerebral por meio da leitura, traz uma perspectiva dos extremos: daqueles que leem textos complexos e escritos em suportes físicos e dela fazem diferentes inferências e compreensões e daqueles que não desenvolvem esse tipo de habilidade por pouca oportunidade de aprofundamento em textos densos.

Os dados coletados por Wolf mostram que a cultura digital faz com que os indivíduos não se aprofundem na compreensão e conhecimento dos textos, de modo que os olhos percorrem sobre a escrita buscando palavras-chaves que apoiem o entendimento e a significação do que se lê. Segundo a pesquisadora, os leitores de experiência profunda podem perder habilidades do comportamento leitor à medida que se deixam levar pelo imediatismo e quantidade de informações. Para a autora, há uma emergência, de não se deixar que um tipo de leitor se sobressaia sobre o outro, mas que se encontre um equilíbrio entre a leitura profunda e a leitura instantânea, de modo que as habilidades de compreensão transitem e transponham os conhecimentos de um para o outro.

                A tríade estabelecida entre esses três autores, Chartier, Santaella e Wolf, revela àqueles que se debruçam em seus estudos, a importância da leitura e, sobretudo, da apropriação de suas competências e habilidades para a construção de um sujeito letrado. Independentemente do suporte e do tipo de leitura, Wolf nos mostra que é possível formar sujeitos letrados para a leitura profunda quanto para a leitura dinâmica, de modo em que ambas, se abstraia o conhecimento com profundidade.

 Referências

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo. Unesp, 1998.

SANTAELLA, Lúcia.  Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo. Paulus, 2004.

WOLF, Maryanne. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura em nossa era. São Paulo. Contexto, 2019.

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Comentários

  1. Interessante a conexão que você fez , Gabriela, de Santaella e Chartier com Maryanne Wolf. Não conheço esta autora, então agradeço sua dica. Um abraço!

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