SÍNTESE: A HIPERMÍDIA E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

 Simone Lucas Gonçalves de Oliveira


            O advento da internet e da hipermídia transformou o universo das bibliotecas, o ato de ler, os perfis do público leitor e as formas de ensino e aprendizagem nas escolas.

A hipermídia, mídia digital de leitura interativa e acessível exclusivamente em interfaces do ciberespaço, não linear e não hierárquica, converge diferentes mídias entre si: texto, som, imagem, movimento, consistindo numa fonte dinâmica e inovativa, com grandes impactos na educação, cultura e nas formas de acesso ao conhecimento.

Chartier (1999) conceitou hipermídia ao afirmar que “pela primeira vez, no mesmo suporte, o texto, a imagem e o som podem ser conservados e transmitidos”. (CHARTIER, 1999, p. 134).

O ensino e o aprendizado têm passado por transformações, considerando que um novo perfil de aluno está em sala de aula, moldado, em parte, pelas tecnologias próprias do seu tempo. As realidades culturais também se modificam, haja vista que os hábitos e os costumes de acesso ao conhecimento e de leitura passam por mudanças.

As transformações nas esferas da educação e da cultura permeiam os aspectos da vida em sociedade; as crianças, desde a tenra idade, acessam hipermídia por meio do uso de dispositivos eletrônicos, o que faz com que um novo perfil de crianças chegue às escolas. Diante disso, tem-se que escolas e mestres precisam estar preparados para receber este público; é importante que se proponham o uso dos recursos da hipermídia, explorando-os em todas as suas dimensões.

Considerando que algumas crianças tem o seu próprio tempo e formas particulares de aprendizado e soma-se a isso o fato de que, uma vez usuárias da hipermídia, possuem percepção e cognição diferentes das gerações anteriores. Nesse sentido, a aplicação da hipermídia na educação pode contribuir no processo de ensino e aprendizado, pois, dada a convergência de mídias, o pressuposto de que uma criança é mais sensível a determinado sentido que outras – visual ou auditivo ou textual ou movimento, e o uso concomitante de múltiplos sentidos, a hipermídia pode auxiliar as crianças no seu aprendizado, sendo um recurso adicional aos suportes didáticos.

Em meio a desafios nos atos de ensinar e de aprender nos tempos atuais, há de se refletir também sobre o ato de ler e o perfil da criança leitora, pois, já imersa no ciberespaço e navegante no oceano da hipermídia, precisa também, desde muito cedo, fazer o exercício da apropriação e interpretação daquilo que vê, lê, ouve e assiste.

Assim, tem-se que o ensino, o aprendizado e a leitura, nas suas formas tradicionais, com as salas de aulas, mestres, alunos agrupados e bibliotecas, não são descartados, e nem os novos modelos se tornam exclusivos; ambos se interagem e trocam recursos entre si.

Eventualmente, percebe-se insegurança no uso da hipermídia no ensino, aprendizado e leitura nas escolas e desconforto com o perfil de crianças que se recebe em sala de aula: inquietas, desfocadas e que querem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Nesse sentido, como forma de dissipação dos temores e de melhor compreensão dos aspectos norteadores dos comportamentos das crianças no mundo atual, sugere-se as leituras de Santaella (2004) a respeito do perfil do leitor imersivo, que também pode ser aplicável ao leitor infantil, imerso nas conexões do ciberespaço.

Referências
 

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.

SANTAELLA. Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.

Visite o site do Ezequiel para mais leituras


Comentários

  1. Muito interessante a reflexão que você faz Simone, sobre a relação entre o comportamento infantil de hoje em dia e os tipos de leitores imersivos. Faz muito sentido para mim o fato de que não podemos esperar que o desenvolvimento das crianças das novas gerações seja igual ao de crianças anteriores à internet, porque aquelas já crescem em contato com o ambiente do ciberespaço, que desenvolve outras habilidades. Obrigada pela reflexão!

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  2. Simone, muito legal a sua reflexão! A tecnologia pode ser usada, sim, como potencializadora do processo de ensino e aprendizagem. Porém, percebe-se que ainda há muita resistência por parte do corpo docente de escolas e universidades quanto à sua utilização. Então, o que fazer para que essa resistência seja atenuada? E por que há tanta resistência? Bom, são questões a serem refletidas...

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