SÍNTESE: A DOIS CLIQUES DA ESCOLA
José Fernandes Castigo
Fonte: https://images.app.goo.gl/yza5jNuidGm9S2ki9
É inegável que as tecnologias digitais hoje fazem
parte da cotidianidade humana. Aliás, ancorados nas contribuições de Santaella,
diríamos que os seres humanos são tecnológicos, ou seja, a tecnologia é
inerente ao ser humano, portanto há uma inseparabilidade entre homem e
tecnologia. Por isso mesmo, hoje em dia, constata-se a presença da inteligência
artificial em quase todas as atividades humanas, e ela funciona como sua extensão.
O carácter omnipresente das tecnologias digitais produziu
inúmeras transformações na vida das pessoas, sobretudo com o advento da internet e
seu crescimento exponencial. Essas transformações ocorreram nas esferas
sociocultural, política, econômica, etc. Vamos nos centrar, no primeiro nível,
onde destacamos a entrada de inúmeros novos vocábulos e alteração de
significados de alguns. Dentre tantos destacam-se: slides, chat,
mouse, print, smarthphone, e-mail, clique, gosto, etc. Deste grupo,
quando falamos de uso de tecnologias digitais e leitura de textos eletrônicos no
ciberespaço,
o vocábulo mais usado é clique.
Hoje, é uma palavra mágica, pois através
dela podemos fazer compras, agendar consultas médicas, ler livros, realizar
testes e provas, etc. Tudo isso é feito do mesmo jeito, com movimentos
semelhantes e em escala global, principalmente quando fazemos leitura de textos
e outras atividades que atrás nos referimos, no computador, com mouse, e
é por intermédio deste que o leitor navega. Apesar da presença das TICs em
quase toda as atividades humanas, nas escolas o cenário é desolador porque aqui
existe uma forte resistência no uso de tecnologias digitais. Assim, há uma
pergunta fundamental, que os gestores da educação devem fazer a si mesmos. O
que ganhamos com ausência de textos eletrônicos e tecnologias digitais nas
escolas? Se forem honestos dirão que há mais perdas que ganhos, pois o Brasil continua sendo um dos países que menos lê no
mundo. Ademais, lutar contra tecnologia é de certa forma lutar contra o
desenvolvimento da inteligência humana. No entanto, reconhecemos que essa
tarefa não é exclusiva da escola, mas tem um papel fundamental, porque as
práticas pedagógicas são o reflexo das práticas sociais. Portanto, a inclusão
de tecnologias digitais no âmbito escolar não pode ser decidida pelos
professores.
Como as tecnologias digitais fazem parte do dia a dia
da maioria da população, cremos que é chegado o momento de darmos “dois cliques”
e abandonarmos de uma vez por todas o conservadorismo e mudarmos o paradigma do
ensino e aprendizagem da leitura nas escolas brasileiras, fazendo de leitura
digital uma prática permanente através de implementação de projetos de leitura,
sem descurar a formação dos professores nessa matéria, porque ele é a peça
chave nessa interação que orienta produção de conhecimentos, pois essa nova
modalidade de leitura, a do texto
eletrônico, inscrito na tela, cria uma distribuição, uma organização, uma
estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com o qual se defronta lendo
o leitor do livro físico e essas transformações
demanda novas maneiras de ler. Não só nisso o professor deve prestar atenção,
porque a relação da leitura com um texto depende do texto lido, mas também do
leitor, suas competências e práticas, e da forma na qual ele encontra o texto
lido ou ouvido; o texto implica significações que cada leitor constrói a partir
de seus próprios códigos de leitura.
Tanto no texto
impresso quanto no texto digital a leitura continua sendo apropriação,
invenção, produção de significados, permitindo assim a formação integral dos
homens e mulheres. Enquanto situação permanece, fica no ar ou no papel, o
seguinte: até quando as escolas vão continuar fingindo ou assobiando ao lado?
Referências
CHARTIER, Roger. A aventura do livro - do
leitor ao navegador. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.
LAJOLO, Marisa. Meus alunos não gostam de ler...
O que eu faço? [S.l: s.n.], 2005
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O
perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
SILVA, Ezequiel Theodoro. O ato de ler: fundamentos
psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 11ª ed. São Paulo: Cortez,
2011.
Oi, José. Belo texto. A pergunta dele está ecoando em mim... O que será que ganhamos com a ausência de textos eletrônicos nas escolas? Eu não sei o que o povo ganha, mas desconfio de que alguém certamente ganha com isso... Excelente questionamento!
ResponderExcluirBoa defesa da presença das TICs nas escolas José! Gostei também das referências extras que utilizou. Sucesso!
ResponderExcluirMuito obrigado, Telma!
ExcluirMuito interessante a sua reflexão e a estrutura do seu texto, José. Parabéns!
ResponderExcluirOi, José! É impressionante a resistência que os professores das escolas e universidades têm em relação à utilização da tecnologia em sala de aula. Como você disse muito bem, a tecnologia é inerente ao ser humano, não há como separarmos dela. Basta estar aberto para usufruir, com consciência e criticidade, de suas inúmeras possibilidades! Belíssimo texto! Parabéns!
ResponderExcluirJosé, que excelente texto! Existe uma combatividade no seu texto, à resistência dos professores, ao conservadorismo, que é instigante e que deve fazer parte da vida do professor. Como diria Paulo Freire: "ser professor e não lutar é uma contradição pedagógica".
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